Fazia um frio absurdo fora de casa, mesmo assim as lembranças que faziam-se presente lá naquela cama vazia eram ainda de maior intensidade deprimente. Sair daquele lugar para um em que pudesse encontrar a si, ou ao menos desencontar com aquele passado e suas evidências explicitas e dolorosas, fazia-se extremamente necessário. Agasalhou-se, vestiu as belas luvas compradas em alguma loja da avenida mais famosa do mundo, a grandiosa Champs-Élysées, virou-se, puxou o chacecol que havia deixado em cima da cama e saiu por entre as ruas frias e agora cinzas de Paris. A cidade luz nesse momento parecia apagada, só. É realmente linda quando se está acompanhado, porém angustiante quando depara-se com a solidão, que ela pode lhe proporcionar em meio a todos aqueles turistas felizes. Parou em um momento, encontrava-se em frente a Torre Eiffel, admirou a beleza do monumento, observou o pouco movimento comparado aos dias de frio menos intenso ou de calor, apesar de ali nunca haver realmente pouco movimento. Ficou parada por alguns instantes observando as pessoas, os casais. Parecendo-lhe tudo tão intenso, os enamorados tirando foto ou mesmo beijando-se, supostamente eternizando aquele belo momento do relacionamento, que um dia, concluiu com frieza que acabaria. Perguntou a si se acaso eles saberiam dessa verdade, ela a conhecia bem. Afinal quando se esta com alguém, tudo são rosas, tudo é para sempre. "Dessa vez é diferente", nunca é, concluiu mais uma vez de forma fria e nada romântica. Paris é linda, porém no que concerne a qualidade do acolhimento, deixa a desejar, outra dura verdade. Decidiu ir a seu café preferido Café des Deux Magots, um lugar excelente em todos os os sentidos, de bom gosto em todos os seus ricos e míninos detalhes. O garçom anotou-lhe o pedido, excelente pedido, Les tartines sur pain poilâne acopanhados de um capuccino. Americana, embora gostasse muito do requinte Francês preferia a descomplexidade de sua terra natal e as vezes desejara comer no McDonalds vendo as crianças obesas e todas lambusadas, demasiado mal educadas que via frequentemente lá em seu país, até dessas coisas estranhamente sentia falta agora, sentia-se só, uma estranha um em país estranho. As vezes desejara menos biquinho, mais tranquilidade, mais simplicidade, menos arrogância, menos capitalismo. Encontrava-se sentada em uma mesa no canto do Café des Deux Magots pensando nisso e em todo o resto, com o olhar fixo ao horizonte. Quando, de subito, com um vinho debaixo dos braços pára em sua frente, a quem menos imaginará ver.
- Como de costume a senhorita, e sua vinda diária ao Deux Magots, não é dona Jamie? - Dando um ar de humor ao inicio da conversa, neste momento, saindo do transe em que se encontrava, virou-se e...
O passado que deveria esquecer, teimava em encontrar-lhe. Sorriu apenas, não queria responder, nem havia necessidade, ficava extremamente irritada que ele de alguma forma lhe roubasse a solidão e depois pela manhã, tudo que deixasse na cama vazia, fossem lembranças, meras lembranças.
Então com a respiração meio ofegante fitou fixamente os olhos dela e disse:
- Eu te amo... te quero comigo para sempre, mas parece não ser reciproco. Não quer o mesmo?
Haviam pontos de interrogação em sua mente nesse momento, vários, e só um de exclamação. Aquele do lado de um "sim" enorme.
Agora seria diferente, mesmo que deveras não fosse, diferente sempre é. Nada acontece por acaso, se aconteceu é porque não poderia ser diferente, se aconteceu, mesmo que com intervenções é porque era para acontecer.
Esse texto é um esboço, desculpem enventuais erros ortográficos, ele será melhorado em todos os sentidos. :]